sábado, outubro 17, 2009

Falar com as mãos, será que consigo?



Olá pessoal, hoje por incrível que pareça é o primeiro sábado do ano que não preciso trabalhar e estou acordada cedinho só para escrever no Blog em relação á algo que ocorreu ontem e mudou algumas coisas em minha cabeça.
Ainda nesta semana eu escrevi em um de meus trabalhos de Língua Brasileira de sinais- Libras; que achava que nunca iria conseguir entender nem me comunicar através desta lingua. Mas como a vida nos prega cada peça, aqui estou eu para dizer o contrário, que tudo é possível quando existe o desejo de comunicação!
Fora da escola, dou algumas aulas de artesanato para pessoas de comunidades carentes. Ontem trabalhei no bairro Bom Jesus. Ensino a fazer bonecas de EVA, e para isso as aulas tem que ter uma sequência e os alunos tem que prestar muita atenção nas explicações para compreender o processo que na maioria das vezes não é nada fácil. Bom, ontem uma aluno chegou animadíssima e trouxe consigo sua vizinha. Logo que me viu, correu em minha direção e disse:
-Sora quero que conheça uma pessoa muito legal, vem.
Assim que chegamos até sua vizinha, eu estendi e mão e cumprimentei a mesma, para minha surpresa a menina disse, sora ela é surda e veio para fazer a tua aula. Confesso que na hora me deu um grande pânico, pois queria dizere para ela que não daria para fazer a aula pois eu não sei falar através de libras e nem tenho intérprete para me auxiliar, mas o grande sorriso da menina e o balanço da cabeça confirmando o que a outra dizia me deixaram sem palavras. Acomodei elas em uma mesa e comecei as explicações orais. A medida que eu ia falando, percebi que ela não tirava os olhos de mim, um único minuto e o melhor, a medida que eu ia dando as instruções para turma e mostrando os materiais, ela pegava os mesmos, molhava para eles e cuidava meus movimentos,, repetindo com grande exatidão o que eu fazia.
Tenho certeza de que isso é coisa divina, pois eu que me julgava totalmente incapaz, estava ali, interagindo com uma aluna surda que ao meu ver e de minhas colegas estava superando muito mais as dificuldades que minhas alunas ditas ouvintes.
Assim que conclui as explicações iniciais procurei ficar mais na mesa dela, pegando os materiais e fazendo junto com ela as peças para que compreendesse o processo. Seguidamente ela me olhava e me dava um sorriso, que penetrava dentro de mim de tal forma que me deu muita vontade de chorar. Eu entendia apenas naquele sorriso que era um agradecimento, uma grande felicidade por aquilo que estava aprendendo. Ela olhava dentyro de meus olhos e seus olhos brilhavam, parecia que enxergava meus pensamentos e entendia que eu também estava muito feliz por tê-la ali, e estar vivendo aquele momento.
Tentei me apresentar para ela como havíamos feito na aula presencial de libras, acho que não fiz muito bem, então ela repetiu pausadamente os movimentos que eu havia feito meio escandalosamente e esperou que eu fizesse o mesmo. Então fez um sinal de positivo para mim com o dedo e tentou fazer com que eu entedesseo nome dela. Eu já sabia pois minha aluna havia dito; mas mesmo assim, repeti os movimentos e ela riu quando me atrapalhei fazendo o F de Fernanda.
Espero que ela venha na próxima aula, pois gostar, tenho certeza que gostou, entendi isso melhor do que se tivesse me dito.
Nem acredito que este preconceito saiu de minha vida, que este assunto tão polêmico tenha me direcionado para um outro caminho, o caminho da curiosidade, da aprendizagem; pois confesso que ao chegar em casa fiquei grudada no material que a professora tinha nos dado e entrando nos sites que as gurias sugeriram. Isto, já pensando na proxima aula, em me comunicar com ela.
Fiquei imaginando em uma sala de aula esse caso, sei que nem se compara e que eu não poderia dar a mesma assistência á ela, pois tenho 42 alunos e seria quase que impossível perceber tantas coisa com esse número excessivo, mas aí veio uma dúvida, como fazer então?
Bom vou ficando por aqui e com a certeza de que esta postagem terá continuidade, pois terei que entender este processo. Volto assim que formar alguma idéia,um excelente final de semana á todos desta professora realizada!!!

Um comentário:

Beatriz disse...

Cris querida, que coincidência fantástica!! Vistes que a vivência do problema gerou imedita necessidade de buscar informações para poder lidar melhor com ele, em uma nova oportunidade? Por isso, a nossa insistência na geração de problemas pelos alunos. Lembra que os problemas só nos interessam qdo eles são problemas para nós. Sem essa tua experiência, talvez tivesses ficado no morno do teórico, onde a informação entra e em seguida desaprece porque foi só memorização.
Uma experiência vivida não se esquece.
Um abração
Bea