terça-feira, maio 18, 2010

O alfabeto enfurecido







No dia 2 de maio fui até a Fundação Iberê Camargo para visitar a exposição de Leon Ferrari e Mira Schendel O alfabeto enfurecido. Fui atrás de mais conteúdo digamos assim para minha arquitetura, mais embasamento, uma outra visão de algo que também estou trabalhando, o alfabeto.
Na exposição percebe-se o interesse de ambos artistas pela linguagem, pois os trabalhos apresentados manifestam e mostram a linguagem encarnada e vinculante, a linguagem como materialidade escrita e vestígio, a linguagem como tremor de mão e estremecimento de corpo. Todavia, além de uma questão de linguagem, o que se manifesta em suas obras, até mesmo naquelas em que não se pode identificar a matéria lingüística, é justamente a escrita no sentido de traçar as letras, a sua capacidade para funcionar como representação visual da enunciação. Acredito que venha daí o título, até porque, lembrando Esther Grossi, quantos cidadãos não podem utilizá-lo, para quantos o alfabeto não diz nada. Eles são cegos na escrita. Poderíamos compará-los também ao menino da história de Ruth Rocha O menino que aprendeu a ver. E cada dia mais, chegamos ao final do ano letivo com milhões de crianças, que não conseguem a maravilha de juntar as letras e descobrir o que esses sinais ns revelam, nos proporcionam.
Vendo a exposição acompanhada de minha filha de três anos pude perceber que ela também faz a sua leitura, diferente da minha, que difere do artista, e assim por diante, pois somos seres únicos dotados de diferentes entendimentos de uma mesma obra, situação...
Mas o fascinante de tudo é que ela já faz uma leitura da arte e a arte ao lado das ciências não deixa de ser uma tentativa diferenciada de entender o mundo, mas claro que em relação á arte temos toda uma carga de afetos, pois nos emocionam ao mesmo tempo que explicam.
Nós professores tentamos sempre utilizar as duas em nossas aulas, a arte e a ciência, podemos dizer até que uma complementa a outra para que ocorra uma educação de qualidade, também podemos dizer que estamos todos os dias tentando acalmar este alfabeto enfurecido, tentando ensinar a ler e escrever crianças adolescentes e adultos. Ensinando a ver aquilo que parece invisível, ou melhor dando visão á quem não a tinha.
É lindo esta doma que acontece quando ao alfabeto enfurecido. É lindo quando a leitura, o conhecimento, o entendimento destes sinais gráficos vem a tona e descobre-se o outro mundo, o mundo das palavras o mundo da comunicação, o mundo da escrita.
O passeio foi ótimo e as descobertas melhores ainda!

Um comentário:

mauranunes.com disse...

Descobertas que trazes para a tua prática docente, o que demonstra teu envolvimento e constante aprendizado! Bjs, Maura -tutora do SI